quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Lerner e as cidades-mulheres

Fui hoje à sede da RIC TV, convidado pelo amigo Dirceu Pio, assistir a uma palestra de Jaime Lerner. Pode-se não concordar em tudo ou em nada com ele, mas é um sujeito espirituoso, sagaz, de inteligência desafiadora.
Nas entrelinhas, Lerner deu um pau em Beto Richa e na insistência dele em dotar a cidade de metrô. Lembrou que a qualidade do transporte coletivo caiu porque a frequência (tempo de chegada dos ônibus no ponto) foi drasticamente diminuída. Não se justifica o metrô pela queda da qualidade do transporte de superfície. Ou seja: retiram-se os ônibus das ruas, o trânsito vira um caos e lá vem o metrô, para gáudio das empreiteiras.
Nossa imprensa precisa fazer uma entrevista a sério com Jaime Lerner.
Mas o melhor de tudo foram as comparações das cidades com mulheres, das quais Lerner parece entender. Das primeiras, com certeza.
Entre outras. Para ele, Nova York é uma mulher toda tatuada. São Paulo, uma mulher que exagerou no botox. Rio, de barriguinha de fora. Curitiba, liga na coxa e um belo naco de carne à mostra. Puro Dalton.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

A incrível máquina do tempo

Divagando & Katilografando

Num vôo tranquilo e preguiçoso, eu havia acabado de passar por sobre o aeroporto de nossa cidade, rumando em direção sudeste do nosso município, a vegetação composta de árvores retorcidas dava o tom e a cor do nosso cerrado conquistense. A brisa morna batia suavemente no meu rosto, meus cabelos longos, por vezes chicoteavam-me os ombros e pescoço, e a mesma brisa deslizava por todo o meu corpo, dando a sustentação que me tornava leve para que, o prazer de voar livre me fizesse sentir como se asas eu as tivesse, o sonho de Ícaro em mim se realizava.
De repente, daquele instante de experimentada monotonia, eu passei a sobrevoar um lindo vale, lá embaixo, corria um regato e, na parte mais larga do vale formava uma lagoa rodeada de tabua, ladeando o pequeno ribeirão, havia uma alameda de eucaliptos, na parte mais elevada, uma pequena colina, estava uma casa com um lindo pomar, suavemente, baixei um pouco a minha altitude, fiz um vôo de reconhecimento sobre a casa e o pomar. Muitas eram as mangueiras, abacateiros, bananeiras, goiabeiras e uma extensa horta; havia algumas pessoas lá embaixo que trabalhavam e acenavam para mim, mais adiante, um grande pasto verdejante, nele, algumas “cabeças de gado” pastavam, voltei a minha atenção para os eucaliptos, sobre eles, fiz um vôo com máxima atenção, observava que o mais alto deles media aproximadamente uns quinze metros de altura, era bem reto e elegante, o seu tronco era de cor acinzentada, suas folhas eram de um verde brilhante sem igual, resolvi descer para, desta forma, eu vê-lo de baixo para cima.
De repente, eu comecei a rodar descontroladamente, o mundo rodava, não, era a minha cama que estava rodando, o barulho que vinha de fora invadiu o meu sonho! Eu estava sonhando? – É verdade, eu estava sonhando sim! Aquele sonho maravilhoso que, novamente estava se repetindo e, fui abruptamente despertado por um barulho que vinha da rua. O barulho era o de um Terno de Reis que estava na nossa porta cantando a sua preliminar para, depois ser aceito pelo dono da casa. Painho havia saltado da cama num pulo, correu para a sala e Mãe Guiomar (minha mãe adotiva) praguejava, enquanto ela dizia poucas e boas ao meu pai para que ele não abrisse a porta, painho afastava as cadeiras sofás e mesas para, assim, receber o Santo Reis. Confesso que eu detestava ser despertado enquanto eu sonhava que estava voando, este era um sonho que, se pudesse, dele eu não acordaria jamais; paciência, o meu mundo continuava rodando, naquele instante eu nem sabia que dia e hora era.
Ah! Acabei de me lembrar, ontem era dia trinta e um de dezembro, quando eu saí da gráfica onde eu trabalho (trabalho na Gráfica Marajó), passei na Praça Nove de Novembro, e comprei umas revistinhas usadas na mão do Jailton que as expõe no Monumento atrás da Tabacaria, gastei Cr$ 3,50 (três cruzeiros e cinqüenta centavos), então, hoje e essa barulheira toda é dia 01 de janeiro de 1973. Tateei no escuro, procurando na cabeceira da minha cama a “pêra” que liga a luz, com certa dificuldade, aliás, com enorme dificuldade, eu ainda não encontrei a “pêra”, ou melhor, eu não encontrei a cabeceira da cama! Meu Deus! O que foi que me aconteceu? Calma, penso que eu mudei de posição na cama, com os pés bem esticados tento confirmar o que eu acabo de pensar; é isso mesmo! Estou com a cabeça para os pés da cama. Pronto, agora eu encontrei a “pêra” e a luz se acende! Puxa vida, os “reiseiros” já estão terminando lá fora! Daqui a pouco eles vão entrar. Eu gosto de Terno de Reis, mas, o chato é que nem sempre eles vêm na hora combinada; Mãe Guiomar, não gosta deles em nenhuma hora, ela os acha uns chatos de “ponta de rua” e também uns “Pés de Cachorro” (qualquer hora dessas, eu vou procurar a concordância nominal do termo, ela sempre fala sem o plural).
Pois bem, eles cantaram, brincaram, beberam comeram e se foram, com eles também se foi o meu sono. Agora estou ouvindo lá longe, talvez nalguma casa na Rua Honorina Andrade, ou quem sabe, na casa do seu Antonio Peçanha, alguém tocando em uma radiola uma canção do Roberto Carlos, é uma música linda, o professor Nery disse que essa música teria sido vencedora no Festival de Sanremo de 1968, sei que eu gosto dela, “Canzone Per Te”, eu não sei se este é o título dessa música, aliás, poucas são as músicas que eu sei o título, afinal, que me importa? O silêncio agora reina e o meu sono teima em não voltar, acho que vou ler uma das revistinhas. Sempre foram elas que embalaram os meus sonhos, talvez eu volte a pegar no sono, afinal, eu mereço; este ano de 1972 foi o único ano em que eu não fiquei para segunda época, agora eu vou cursar o primeiro ano de contabilidade, estou de férias! Ademais, ainda hoje terei que acordar mais cedo para, como nos anos anteriores, também, para assistir à matinal que desde que me entendo por gente, os cinemas da cidade faz essa sessão “grátis” (palavra mágica), portanto, eu não posso perder. O Cine Glória me espera.
Na cômoda ao lado da minha cama estão as dez revistinhas compradas ontem, vou escolher uma e vou ler. Engraçado, neste pacote de revistinhas compradas têm algumas que eu não compraria. A TEX e a revistinha do “Fantasma” me foram empurradas no pacote, eu não vejo graça na leitura destas revistas, e eu já tentei várias vezes lê-las em outras oportunidades em que me faltavam revistas e, jamais terminei a leitura de qualquer delas; nem tudo está perdido, afinal, veio no pacote de revistas, as do Tio Patinhas, Almanaque do Pato Donald, Almanaque do Mickei, Riquinho, Mortadelo e Salaminho, Zé Carioca, também entre elas, a do Conde Drácula (nessa hora da noite me dá arrepios) e do Professor Pardal.
A revistinha do professor Pardal para mim, sempre foi uma das minhas preferidas; ele é um maluco fantástico, eu sempre viajo nas suas “viagens”. E como viajar é meu sonho que até os dias atuais, mesmo em sonho eu não consigo realizar, nelas eu me realizo... Continua na próxima crônica.

Francisco Silva Filho – Curitiba-PR